O trânsito, hoje, em todas as cidades brasileiras, tornou-se um foco de discussão, gerando assim uma preocupação, inclusive mundial, haja vista o número alarmante e assustador de mortes, pois de fato não restam dúvidas de que, hoje, mata mais do que a guerra. Mas, afinal, por que o trânsito mata tanto assim? Por que as autoridades não conseguem conter esse fenômeno denominado trânsito? E o que é trânsito?
A partir daí surgem assim os diversos questionamentos a respeito do tema. E para entendermos melhor o assunto, precisamos definir o significado da palavra “Trânsito”, que é um fenômeno altamente complexo e interdisciplinar, o qual necessita urgentemente de um tratamento científico. Vivemos em uma sociedade totalmente desigual, com uma estrutura hierarquizada e desorganizada carente de valores éticos e morais.
O Código de Trânsito Brasileiro define o trânsito como a utilização das vias por pessoas, veículos e animais, isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para fins de circulação, parada, estacionamento e operação de carga ou descarga, onde estabelece que o trânsito, em condições seguras, é um direito de todos e dever dos órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trânsito, a estes cabendo, no âmbito das respectivas competências, adotar as medidas destinadas a assegurar esse direito.
Pois bem, já que a própria legislação estabelece como meta principal a preservação da vida, focando sempre a segurança e assegurando a todos o trânsito como um direito, por que, então, temos tantos acidentes e mortes? O que falta para mudarmos esse quadro? Por que não temos o trânsito que tantos sonham e almejam? Onde está o trânsito com qualidade e segurança?
Infelizmente, geralmente, ficamos discutindo sobre as questões do que não queremos no trânsito, sobre a violência, sobre os congestionamentos, e até mesmo questões de saúde pública. E esquecemos de focar nossas ações individuais, naquilo que deveríamos fazer, de cumprir todas as normas gerais de circulação e conduta, previstas no Código de Trânsito Brasileiro, ou seja, de cumprir os nossos deveres, de refletir sobre o que queremos de verdade: um trânsito seguro, com fluidez, de querer transitar, de fato, com tranqüilidade, e poder chegar ao seu destino sem dificuldades ou sustos. Esse seria o desejo e o sonho de muitos condutores e pedestres.
Porém, isto tudo ainda é apenas uma utopia, pois falta quase tudo, a solidariedade entre condutores e pedestres, o respeito, a gentileza. E as conseqüências disso tudo é o aumento da violência, gerando a imprudência, excesso dos limites de velocidade, ingestão de álcool, uso do celular ao volante, ultrapassagens perigosas, entre outras condutas irresponsáveis praticadas pelos nossos condutores.
Mas, o que leva uma pessoa a praticar tantos atos de forma imprudente no trânsito? Na verdade, os motivos podem ser diversos, seja pelo desconhecimento das normas vigentes, pela falta de atenção e, principalmente, de valores, do respeito pelo outro, de cidadania e pela falta da valorização da vida humana.
Mas como poderíamos resolver toda essa problemática e carência destes valores, a fim de reduzir ou até mesmo acabar com as mortes no trânsito?
Será que o trânsito realmente tem uma solução? Que há alguma forma de tratamento para solucionar todas essas carências?
São questionamentos que precisamos refletir todos juntos e, com isso, mudar os nossos conceitos de valores e, principalmente, comportamentais. E a solução, sem dúvida, está justamente aí, encontrar o remédio para tratar desse problema crônico que é o trânsito, e com isso vamos nos deparar com dois remédios específicos: educação e punição.
E quando nos referimos à educação, é justamente na forma permanente e continuada, ou seja, a educação voltada para as nossas crianças, que serão os futuros condutores de veículos automotores. Pois, de nada vai adiantar investimentos voltados para os atuais condutores se no passado não foram educados e treinados para cumprir normas e deveres. Educar é ensinar a pensar, é corrigir seus atos punindo-os com o rigor da lei. Não podemos pensar em uma educação onde não haja a punição.
É preciso mudar nossos conceitos, nossos comportamentos, mas acima de tudo termos respeito à vida, é preciso acabar com a impunidade no trânsito, aplicando, de fato a lei para todos, aplicar punições com eficácia, pois somente assim teremos o trânsito sem mortes e seguro.
*Major Fabio Machado, comandante da Companhia de Polícia de Trânsito (CPTran), autor do referido artigo.
Última atualização em 14 de maio de 2015 às 07:29:27.