Os cabos Matheus Freire e Leandro Oliveira, pacientes renais crônicos, superaram as suas limitações de saúde e concluíram com êxito o Curso de Formação de Sargentos (CFS/2021), em janeiro deste ano, no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (Cfap) da Polícia Militar de Sergipe. Os dois policiais militares sergipanos, que aguardam na fila pela realização de transplantes de rins, foram os destaques do curso e acabaram inspirando os demais alunos do CFS, com exemplos de determinação e resiliência.
“Esse CFS foi de suma importância para mim. No início cheguei a pensar em não correr atrás, acreditando que não teria condições de concluir as etapas. No entanto, resolvi tentar e, logo nas primeiras semanas da fase presencial, quando estávamos nos apresentando para os demais colegas, conheci a história de luta do combatente Oliveira. Enquanto ele compartilhava o seu testemunho, um filme passava em minha mente. Era como se ele conhecesse e testemunhasse a minha história. Desde os momentos de desilusão e depressão aos momentos em que resolveu lutar para manter-se de pé. Ali, na figura do Aluno CFS Oliveira, eu me enxerguei e percebi que ninguém está só nessa caminhada. Oliveira é mais um renal crônico que decidiu não se entregar ao diagnóstico de invalidez. Me senti extremamente revigorado ao presenciar o camarada bancando todas as etapas que muitos “sãos” de corpo se negam a bancar”, relatou emocionado o cabo Matheus Freire.
Há dois anos, o cabo Matheus descobriu a doença renal, no auge da careira, quando estava à disposição da Força Nacional, em Brasília, onde contribuía para a capacitação de policiais militares de todo o Brasil, especialmente na formação de novos especialistas em Controle de Distúrbios Civis. Ao retornar para Sergipe, Matheus foi completamente afastado do trabalho para tratamento médico, mas logo solicitou liberação para retornar ao trabalho na PMSE. Após reavaliação da Junta Médica do Hospital da Polícia Militar (HPM), ele passou a colaborar com os serviços administrativos no Cfap. Hoje, ele integra o Corpo de Alunos do Cfap e colabora com a formação de novos soldados, na condição de instrutor das disciplinas de Doutrina de Policiamento Ostensivo e Noções de Policiamento de Choque.
Já o cabo Oliveira, trabalhava normalmente no Getam do 3º Batalhão, em Itabaiana, quando descobriu que era portador de uma doença renal policística hereditária, após a realização de exames específicos. Com o estado psicológico abatido em decorrência da triste descoberta, o militar acabou desenvolvendo um quadro de depressão. Entre idas e vindas para tratamento em outros estados, Oliveira entrou na fila de transplantes, onde descobriu que a sua esposa apresentava compatibilidade para doação de rim. Inclusive, neste momento eles aguardam os resultados dos exames para atestar condições necessárias de saúde para a processo de doação.
“Com o início da pandemia, os médicos avaliaram que eu precisava me afastar completamente do trabalho no Getam, para evitar um possível contágio da covid-19, e foi aí que tive uma recaída na depressão. Foram oito meses em casa. Os oito piores meses desde que descobri a doença, pois só pensava que era um inútil, já que o trabalho no Getam mantinha a minha mente ocupada. O apoio dos companheiros de farda ajudava muito a manter o ânimo, especialmente a cabo Cíntia, Raiane, Márcia, Cristiane, o capitão Guedes e o tenente-coronel Sidney; todos eles sempre me incentivaram muito para que eu não desanimasse”, afirmou o cabo Leandro Oliveira.
Logo depois, o militar do Getam teve a oportunidade de participar do Curso de Formação de Sargentos, qualificação indispensável para a progressão na carreira. “No começo eu imaginava que seria apenas mais um curso, contudo, durante a etapa presencial eu me deparei com duas formas de encarar: ou me fazia de coitadinho ou encarava da melhor forma possível. Então resolvi encarar positivamente e fui surpreendido com a força e o apoio incondicional dos colegas do CFS. Tudo isso me fez superar limites e, acabei participando de todas as instruções, sem exceção, fato que gerou em mim uma imensa gratidão por todos os estímulos positivos.”
Foi durante o curso que os cabos Oliveira e Matheus se conheceram e descobriram que enfrentavam problemas de saúde semelhantes.
“Por meio do contato diário com Matheus eu pude refletir que a gente não pode deixar a doença controlar a nossa mente. Se você deixar, certamente acabará entrando em um abismo sem possibilidade de retorno. A partir dessas reflexões geradas durante o CFS, eu retomei a prática de atividade física, corrida e musculação, tudo com a liberação médica. Hoje eu sigo aguardando o transplante com uma nova mentalidade e o ânimo renovado, me sentido outro homem, com a certeza de que há muita vida pela frente”, concluiu.
Última atualização em 19 de abril de 2022 às 10h.